Saiba tudo sobre o trabalho de um guarda-vidas
31/05/2017 22h40 - Atualizado em 01/06/2017 09h02
Panorama sobre a atuação dos profissionais de resgate aquático e conta o que é preciso para ser guarda-vidas.

De acordo com dados de 2015 da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (SOBRASA), 17 pessoas morrem por afogamento todos os dias no Brasil, sendo essa a segunda maior causa de morte acidental do País, ficando atrás apenas dos acidentes de trânsito. Ainda segundo a SOBRASA, a maior parte das mortes acontece na região Norte, enquanto que o Nordeste está no segundo lugar, no período de novembro a fevereiro, durante o verão. Todo esse contexto demonstra a importância da atuação dos guarda-vias.
Os guarda-vidas civis são responsáveis por todas as atividades relativas à prevenção de acidentes aquáticos em ambientes privados (como piscinas de clubes) e públicos (como mares, rios, represas, lagos e áreas de banho coletivo em geral). Já os guarda-vidas militares são ligados ao corpo de bombeiros, concursados para atuar apenas em áreas públicas, além de realizar resgates em altura e atendimento pré-hospitalar.
No Recife, as praias são patrulhadas por guarda-vidas militares, mas algumas cidades litorâneas de Pernambuco também contam com guarda-vidas civis para cuidar das praias, como o município do Cabo de Santo Agostinho e a região de Porto de Galinhas (que pertence ao município de Ipojuca).
‘Guarda-vidas’ ou ‘Salva-vidas’? Há diferença?
Ambas as nomenclaturas são comumente utilizadas para designar a profissão daqueles que protegem e resgatam vítimas de acidentes aquáticos, mas afinal, qual é a forma mais aceita para se referir a esses profissionais? Rafael Lins é guarda-vidas, instrutor e presidente da Academia Pernambucana de Salva Vidas e Guarda Vidas (APSA) e diz o seguinte: “Os dois jeitos são aceitos, mas muitos profissionais preferem ser chamados de guarda-vidas, porque a atividade principal não é o salvamento, mas a prevenção. O salvamento ocorre quando a prevenção de acidentes falha. Guarda-vidas passa a ideia de proteção, de prevenção que norteia o nosso trabalho”.
Rafael, ao chegar ao seu local de trabalho, precisa armar o seu posto organizando a mesa (se estiver em área de piscina) ou cadeirão (para praias), além de preparar os equipamentos de trabalho (apito, objetos flutuantes, protetor solar, repelente contra tubarão, etc.) e fazer um treinamento para aquecimento. Depois disso, é preciso analisar as condições do tempo e da maré, localizar e sinalizar as valas de retorno de água, regiões com pedras, áreas de correnteza forte e áreas propícias a ataques de animais como tubarões.
Também é função de guarda-vidas alertar banhistas que apresentem atitudes que lhes ofereçam risco, além de orientar pais e responsáveis que estejam com crianças sobre as medidas de segurança para evitar que haja afogamento ou que as crianças se percam. Em piscinas, também é preciso verificar condições de higiene, a conservação da sinalização de segurança e verificar o funcionamento de equipamentos como bombas, para avaliar se elas oferecem risco. Em qualquer situação de irregularidade, também é dever dos guarda-vidas alertarem o poder público ou a direção dos clubes para que sejam tomadas as devidas providências.
Segundo Lins, “o mais difícil é a prevenção, porque a população às vezes não entende que aquilo é para a sua segurança e acha que está sendo cerceada em seu direito de ir e vir”. Ele também coloca como fator de dificuldade a falta de interesse do poder público no sentido de garantir uma estrutura mínima para o aperfeiçoamento do serviço e um bom quadro de funcionários atuando nas áreas de banho. “O governo prefere gastar com outras coisas, tem praia em que falta efetivo (de profissionais trabalhando) e sinalização. Afogamento é a segunda maior causa de morte acidental no Brasil, tem dados sobre isso que o governo não divulga, porque se divulgasse teria que abrir concurso todo ano para contratar um número suficiente de profissionais guarda-vidas e prevenir essas mortes”.
Os guarda-vidas também buscam uma maior valorização de seu trabalho. Segundo Rafael, ainda há muitos direitos que eles deveriam ter e ainda não estão garantidos: “A hora de trabalho dos guarda-vidas é a mais baixa dentre as profissões do Brasil, trabalhamos no sol o dia todo e corremos riscos, mas não temos aposentadoria especial e nem fator de insalubridade do trabalho”.
Apesar das dificuldades, Rafael diz que o mais gratificante é o sentimento de fazer um bom trabalho protegendo e salvando as pessoas. "A parte mais gratificante é quando a gente salva uma vítima com vida e durante todo o resto do dia não tem mais nenhuma ocorrência, quando reconhecem o nosso trabalho. Meu trabalho é uma terapia pra mim, nele eu esqueço todos os problemas da minha vida, quem gosta de ser guarda-vidas se sente, sim, um heroi, somos anjos das águas que protegem, principalmente, mais ainda do que salvamos”.
Quanto ganha um Guarda-Vidas?
Segundo Rafael Lins, os guarda-vidas civis que trabalham em locais públicos com 36 horas de descanso (trabalham dia sim, dia não) por semana recebem em média R$ 2 mil mensais. Os que trabalham em ambientes privados segundo o regime da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), com 44 horas de trabalho por semana e dois dias de folga (que podem variar, não é sempre sábado e domingo) ganham de R$ 1300 a R$ 1700. Já os guarda-vidas militares recebem do corpo de bombeiros um salário de, em média, R$ 3.060.
Como é a formação necessária para ser Guarda-vidas?
O curso de formação e treinamento para guarda-vidas é composto por uma etapa de aulas teóricas e práticas, seguidas de três provas: uma teórica contendo 20 questões, uma prova prática com simulação de resgate e socorro de vítimas, além de uma prova física, que consiste em uma corrida de 2.400 metros de corrida que devem ser cumpridos em 12 minutos para homens e em 13 minutos para mulheres. Além disso, é muito importante que os participantes saibam nadar.
Sinalização
Perguntado sobre como anda a sinalização das praias, o Major Aldo afirma que algumas placas mais antigas foram substituídas por outras novas, mas não todas. Ele afirma também da importância de conscientizar a população no sentido de não depredar a sinalização e como ela ajuda tanto na prevenção quanto no momento de pedir socorro. “Há sinalização desde o Bairro Novo, em Olinda, até a praia do Paiva, no final do litoral de Jaboatão dos Guararapes. Cada placa contém um número de identificação que serve de referência para o local onde elas estão e também o telefone 193 para chamar os guarda-vidas. Informando a numeração, é mais fácil chegar com rapidez ao local da emergência e agir de modo mais eficiente no salvamento”, orienta.
Salvamento
De acordo com o Major Aldo, no momento em que há uma emergência por ataque de tubarão, os guarda-vidas dispõem de repelentes de tubarão para afastar o animal, materiais flutuantes para manter a vítima sobre a água e embarcações para auxiliar na condução da vítima de volta à praia (além disso, o som da embarcação também afasta o tubarão), além de quadriciclos e viaturas em terra. A partir do momento em que a vítima chega à praia, os guarda-vidas agem para conter a hemorragia causada pela mordida e encaminham a vítima ao hospital.
O último ataque ocorreu em setembro do ano de 2013, e vitimou a jovem paulista de 18 anos Bruno Gobbi, atacada na região próxima à pracinha de Boa Viagem. Bruna foi mordida na perna esquerda que foi amputada, porém a moça não resistiu aos ferimentos e veio a óbito. Além dela, de acordo com o Comitê Estadual de Monitoramento dos Incidentes com Tubarão (CEMIT), de 1992 a 2016, foram registrados 61 casos de ataques no Estado de Pernambuco, representando uma média de 2,5 ataques por ano no estado.
Regulamentação da profissão de guarda-vidas: veja o que dizem os projetos de lei em tramitação no Senado Federal
A regulamentação é uma pauta de interesse dos profissionais do salvamento aquático, que buscam conquistar direitos como piso salarial, insalubridade no trabalho e regime de aposentadoria especial A profissão de guarda-vidas ainda não é regulamentada no Brasil, apesar de, há muito tempo, ser uma pauta de grande importância para a categoria, que busca mais valorização. Atualmente, há dois Projetos de Lei em debate que tramitam no Senado Federal, ambos já aguardando inclusão na ordem do dia de requerimento.
O PL número 42 do ano de 2013 é de autoria do Deputado Nelson Pellegrino (PT/BA) e determina que “salva-vidas são os profissionais qualificados, habilitados e aptos a trabalhar em piscinas, mares, lagos, rios, represas e em todos os ambientes aquáticos de uso público ou coletivo” e a profissão somente pode ser exercida por maiores de 18 anos que gozem de plena saúde física e mental com ensino médio completo, curso profissionalizante de Salva-Vidas com carga mínima de 120 horas/aula e que consigam nadar 100 metros em até 1 minuto e 20 segundos, 200 metros em 3 minutos e 30 segundos e mil metros em meia hora. O projeto também obriga a presença de dois guarda-vidas a cada 300 metros quadrados de superfície aquática durante os horários de uso de piscinas públicas e coletivas em clubes, condomínios, escolas, associações, hotéis e parques públicos e privados.
As empresas teriam um período de seis meses para se adaptar às normas em caso de aprovação da lei. A carga horária prevista no PL seria de 40 horas semanais e os profissionais teriam direito a acréscimo de 40% no salário por insalubridade. O piso seria de 3 salários mínimos, o que atualmente corresponde a R$ 2.811.
Já o PL número 66 do ano de 2011, de autoria da Deputada Laura Carneiro (PMDB-RJ), determina que “considera-se guarda-vidas o profissional apto a realizar práticas preventivas e de salvamento relativas à ocorrência de sinistros em ambientes aquáticos” e também lista as atribuições da profissão de guarda-vidas. Em relação a quem pode ser guarda-vidas, são aceitas pessoas que tenham mais de 18 anos, ensino fundamental completo ou equivalente e formação em curso profissionalizante “ministrado por escola técnica criada por iniciativa pública ou privada e oficialmente reconhecida”. Há também a previsão de verificação das condições a cada dois anos realizada por órgão competente de fiscalização. No que diz respeito a empresas que têm piscinas, o PL determina que “a contratação dos serviços de salvamento aquático é de responsabilidade do administrador, proprietário ou não, do estabelecimento que possuir piscina ou qualquer parque aquático com acesso facultado ao público” e institui a obrigatoriedade do fornecimento de seguro de vida e de acidentes em favor do guarda-vidas, entre outras exigências.
por Lara Tôrres (http://www.leiaja.com/) | SINDBOMBEIROS/BA ASCOM 2017